terça-feira, 17 de janeiro de 2012

MUDANÇA PAULATINA DE COSTUMES.

Busscar VB Elegance seguido por um Marcopolo G7. Só na imagem, pois a Busscar ficou para trás.



Como a crise da Busscar mexeu com uma empresa.

Tiago Endrigo


Para quem não é do hobby da busologia, a imagem de hoje representa apenas mais um retrato de ônibus, como tantos em toda a internet. Mas, para aqueles que são do meio da busologia, hobbystas e colecionadores, o registro de hoje mostra mais do que apenas ônibus, retrata mudanças bruscas no transporte brasileiro através do desenvolvimento das encarroçadoras. Não estamos nos referindo ao sistema, mas sim a frota.

A Busscar Ônibus chegou a ser a maior encarroçadora de ônibus do país. Com seus modelos, sempre bem desenhados e elaborados, atendendo aos desejos de frotistas e grandes empresários do ramo, a sucessora da Nielson chegou a ter cliente exclusivos, que viam na marca Busscar certeza de bons negócios.

É o caso da Pássaro Marron, que durante anos fez grandes aquisições de modelos fabricados pela tradicional empresa de Joinville, em Santa Catarina. As únicas vezes em que os Marcopolos foram vistos na moderna Pássaro Marron (após a fusão entre Pássaro e São Jorge, com estilização padrão de pinturas e acerto de sociedade de bens) se remetem a compra da Rodoviário Atlântico, que remanesceu alguns Marcopolos para a adquirinte.

Com a delicada situação da Busscar, a Pássaro se viu obrigada a fazer aquisições junto a outras encarroçadoras. Antes da venda da empresa para a Família Constantino, as últimas aquisições da Marron foram compostas por Comil Svelto Midi, Versatille Midi e Irizar Century (para a Airport Service). Agora, com a batuta da empresa passada dos Soares Penido, do Grupo Serveng, para Nenê Constantino, do Grupo Comporte, os Marcopolos invadirão a empresa, fato este que já está ocorrendo.

Paulatinamente, a crise da Busscar está mudando a Pássaro Marron, e outra empresa do grupo, a Litorãnea. A nova frota mudou a cara da empresa, e ao mesmo tempo descaracterizou a “Busscarpadronização” na Pássaro. Com o passar do tempo, isso se tornará mais evidente, já que os carros Busscar da frota já estão ganhando idade. A Pássaro entra agora em uma nova fase. Está recebendo os seus novos Marcopolos G7, com nova estilização de pintura, um dos mais belos e bem elaborados do grupo Comporte.

LITORÃNEA. MAIS UMA NOVA MUDANÇA.

A Litorãnea surgiu pelas mãos da Pássaro Marron como mais uma empresa do Grupo. Sua semente foi a Rodoviário Atlântico, empresa adquirida pelos Soares Penido na primeira metade da década de 80. Parte dos carros da Atlântico foram transferidos para a Pássaro Marron. Eram os Marcopolos Paradisos, que vieram a diferenciar a frota da empresa, que naquela época tinha uma variedade ainda maior em sua frota. Pouco depois surgiu a Litorãnea, uma ramificação do grupo que, como sugeria o nome, operaria linhas que seguiam para o litoral paulista. E assim seguir conforme o planejado. Sob a batuta da Pássaro, a empresa ganhou notoriedade e instalou-se no litoral. Em Caraguatatuba ganhou destaque e hoje, além das linhas rodoviárias, opera também coletivos na cidade.

Viera aí a primeira grande transformação na Litorãnea. Sua frota passava a ser composta totalmente por modelos da Busscar, tanto rodoviários quanto urbanos. Foi assim também com a sua irmã alpina, a Mantiqueira, empresa dissolvida do Grupo Soares Penido, que operava linhas rumo Campos do Jordão e as linhas urbanas da cidade. Com o controle da Litorãnea nas mãos do Grupo Comporte, a empresa sente sua segunda grande mudança. Começa a receber os novos Marcopolos G7, além de nova roupagem a exemplo da Pássaro.

As mudanças significativas nas empresas Pássaro Marron e Litorãnea vieram após a crise da Busscar. A venda para os Constantinos e as dificuldades da encarroçadora podem não ter ligação alguma, e nem é isso que este artigo afirma. Porém, ambos os acontecimentos tem importância igual em um mesmo período dos ocorridos. Sempre que olhamos ou pensamos na Pássaro Marron, imaginava-se os El Buss, os Visstas ou os Jumbuss que ele teve. Agora, tudo é diferente, pois o que se verá daqui pra frente será Marcopolos G7 nela. Quem sabe até Ideales 770. Tem ainda as linhas urbanas operada por ambas as empresas. O que virá para renovação de frota?

Seja bem vinda a Marcopolo na Pássaro. A roupagem mudou, a tradição que ainda existe também muda e ganha novos ares. Para o passageiro, pode até não significar nada mais além do que um ônibus novo. Para nós, o significado é grande, nasce aqui uma nova Pássaro Marron, uma nova Litorãnea!

E para quem sonhava com G7 na Pássaro... Parabéns, seus sonhos foram realizados. E que venha mais G7 para ambas as empresas!
MARCOPOLO PARADISO G7 X VB ELEGANCE: UMA BRIGA BOA!


Já imaginou como seria se a Busscar estivesse aí no mercado, firme e forte, com a sua produção e encomendas em dia? Será que a Marcopolo teria a mesma presença no mercado que está tendo hoje?

Bom, a lacuna deixada pela Busscar deu oportunidades de mercado para todas as encarroçadoras, sejam elas grandes ou pequenas. Não só no nicho rodoviário, mas no urbano sua falta teve ainda mais significado. A Mascarello ganhou uma fatia importante no mercado de veículos urbanos. Na mesma linha a Neobus vem emplacando os seus produtos. Existem também outras encarroçadoras, como a Ibrava, que arrumou seu espaço ao sol. Um exemplo que foi escrito acima é visto nas cooperativas de São Paulo, que adquiriram em peso modelos dessas empresas. Modelos da Busscar, como o Micruss, UrbanusS e o Urbanuss Plus, estão sendo substituídos não só por modelos da tradicional Caio ou Marcopolo, mas também por carrocerias das empresas que hoje compartilham o setor.

Timidamente, a Busscar chegou a entregar algumas unidades de seus últimos modelos, como o Busscar Urbanuss Ecoss, um dos mais recentes modelos. O mais chamativo e famoso foi o Busscar Urbanuss Midi reestilizado, entregue para uma cooperativa de São Paulo. Essa aquisição foi a centelha de esperança para os fãns da empresa, que viram nessa entrega um novo fôlego para a Busscar.

No setor rodoviário ainda se fazem presentes os seus modelos, como os El Buss, Vissta Buss, Jumbuss e, em menor número, os VB Elegance. O modelo foi a última cartada da empresa, que acertou no design da carroceria. Com poucas mudanças estéticas, o Elegance trazia detalhes dos outros carros da encarroçadora, mas com mudanças sutis, porém de grande efeito estético e cosmético, como o desenho da dianteira, com as “lágrimas” que seguem até o final da pára-choques. A Busscar foi a primeira em apostar totalmente em equipar seus modelos com jogos ópticos dotados de sistemas em led’s, sistema esse imitado por outras empresas do ramo devido a economia que o dispositivo traz por ter maior vida útil (e ser esteticamente mais bonito também).

Com as dificuldades na Busscar, a Caio ganhou mercado com o seu Giro em várias versões. A Mascarello e a Neobus apresentaram uma gama de modelos que, por enquanto, vem atraindo mais o setor de fretamento. Já a Marcopolo abocanhou boa parte do vazio deixado pela Busscar no setor rodoviário. Hoje vamos aquisições maciças, gigantescas só com modelos da Marcopolo. A Breda está renovando a frota com os Ideales 770, Viaggios e Paradisos. Recentemente apresentou seus novos seletivos no litoral compostos macivamente por Marcopolos. A frota urbana do Grupo também é composta em peso por carrocerias Marcopolo. A Pássaro Marron, que deixou de ser dos Soares Penido e passou para a família Constantino, está renovando sua frota só com os Tops da Marcopolo. E nesse ritmo segue muitas empresas do setor, com renovações focadas nos modelos da marca. Vale lembrar também que a Cometa foi uma das tábuas de sucesso da empresa, pois depois que os CMAs Scania passaram a fazer parte da história a parceria Cometa – Marcopolo representou grandes compras.

A Marcopolo agiu certo na hora certa. Teve visão de mercado, know how certeiro e calculado. Seu sucesso é visível, inegável. Fruto de muito trabalho, inteligência e dedicação, sendo exemplo de boa administração e um orgulho brasileiro. Possui várias fabricas no exterior e seus modelos estão presentes em centenas de cidades em todo o mundo. Hoje, se a Busscar estivesse forte, o VB Elegance teria um concorrente de peso, assim como o G7 teria também um concorrente de garbo. Seria uma visão interessante, ver a diversidade nas frotas novamente, a beleza dos Elegances com o conjunto formoso que está encampado nos Marcopolos G7. Seria uma briga muito boa. (N.B.E.O.E.A.)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CAIO GIRO: VAMOS FAZER UMA BREVE ANÁLISE SOBRE O MODELO???



Caio Giro da JSL Logística, em Mogi das Cruzes, utilizado para fretamento



Por: Tiago Endrigo

Uma polêmica carroceria dentro da proposta da Caio Induscar para um carro rodoviário que atendesse linhas de curtas, médias e longas distâncias. Possibilidade de multi encarroçamentos e baixo custo operacional. Foi assim que o modelo Caio Giro nasceu e apareceu para o mercado brasileiro, como mais uma opção de modelo rodoviário.


A princípio, debaixo de muitas críticas, achou-se que ele não conquistaria uma fatia considerável do mercado. No entanto o Giro é visto em muitas empresas, empregado tanto no transporte de curtas e médias distâncias em caráter de fretamento ou, ainda, em linhas rodoviárias de média e longa distâncias. O modelo foi lançado nas versões Giro 3200, 3400 e 3600, possibilitando ao empresário adquirente variedade na hora de escolher um chassis de sua escolha que combinasse com o carro...


A empresa São Geraldo de Viação é um exemplo disso. Possui dezenas montados sobre chassis Scania K420, operando em condições extremas de distância e resistência. As empresas Rápido Brasil S.A. e Ultra S.A. são outras empresas que também possuem em peso o rodoviário da Caio em sua frota. Claro que se deve levar em consideração que ambas as empresas pertencem ao Grupo Ruas.


Frota de Caio Giro da Ultra S.A. Fazem linhas entre a capital Paulista e o Litoral.


... ao lado deste, com nova pintura. Os Giros reinam nessas linhas!


Já a Rápido Fênix Viação possui alguns modelos também, só que montados sobre chassis mais simples, os Mercedes Benz OF-1722, que operam linhas rodoviárias de médias distâncias. Cita-se também as empresas Andorinha, Atual (M.G.), Paraibuna, Expresso Nordeste, entre outras.

Detalhes a parte, é um carro que agradou e tem agradado muitos empresários. Com o Giro, a Caio ganhou um público diferenciado, já que sua maior participação sempre foi no setor de modelos urbanos. Hoje, o Giro é uma ótima opção para a frota, com baixo custo operacional, design limpo, detalhes caprichados e beleza original. Se o G7 vaio ao mercado com um arrojado design no jogo óptico, pode-se dizer que o Caio Giro inovou com os desenhos de lanternas traseiras e faróis dianteiros. A diferença é que a Marcopolo apostou no conjunto em Leds, e se destacou.

No acabamento interno, o Giro não peca e se iguala a outros grandes de seu nicho de atuação. Tecidos e revestimentos de primeira, à escolha do comprador. Por dentro também fica evidente a preocupação da Caio em não “poluir” o aconchegante local de viagem com adereços desnecessários. Tem tudo que é necessário, sendo tudo agradável aos olhos.

Viajando em alguns modelos e, olhando bem de perto, bem de perto mesmo, dá pra notar alguns deslizes. Em um modelo Giro 3400 de uma determinada empresa notamos que depois do eixo traseiro, a distância entre poltronas diminui consideravelmente, tornando a viagem naquele local um pouco maçante para as pernas e colunas. Enfim, no conjunto, o modelo é SHOW DE BOLA, veio para surpreender e surpreendeu!!!! Parabéns à Caio pela originalidade em sua criação!









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Glitter Graphics, Glitter Pics




quarta-feira, 22 de junho de 2011

EXPRESSO BRASILEIRO: TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS...

Montagem Produzida Por Thiago Suehiro, Mostrando as Duas Fases do Paradiso, Agora nas Mãos da Viação Cometa. Imagens Pertencentes ao Acervo de Thiago Suehiro.



Tiago Endrigo

“Há mais de um ano atrás um motorista da Expresso Brasileiro, de nome Antônio Crispim, pediu para que o Thiago Suehiro e o Tiago Endrigo o fotografassem diante de um carro da E.B. O motivo: queria uma recordação, ‘já que ele iria trocar de farda (uniforme) e empresa’”

Foi depois do fim das operações da Samavisa Litoral que a Expresso Brasileiro assumiu as linhas do Vale do Paraíba e trecho do Litoral Paulista. Na época, ver os modelos amarelinhos da E.B. era uma grande novidade. Sobretudo para os usuários, que sentiram diretamente a distinção da qualidade do serviço de ambas. Com novos carros, ampliação de horários e um serviço diferenciado, a Expresso agradava e impressionava aqueles que de seus serviços dependia.

E assim correu. Dezenas de carros da E.B., com prefixos diferentes podiam ser vistos na Rodoviária Geraldo Scavone. A garagem da Pássaro Marrom também se tornou um local onde, comumente, podiam ser vistos vários carros e prefixos diferentes. Foi assim até a notícia de que a Cometa assumiria as operações de linhas da EB.

Até meados de maio, ainda era possível ver alguns modelos da Expresso dando voltas em Mogi. Mas, neste último mês corrente, os carros amarelinhos já não davam mais as caras. Pena! Restaram os registros que mostram que, um dias, ou vários dias, a Expresso Brasileiro coloriu o cenário da Rodoviária de Mogi!

Agora, são os carros da Viação Cometa que fazem a corte de quem visita Mogi. O azul é igualmente bonito ao amarelo, e vice e versa. A impressão que ambas as cores causam são das melhores, assim como as empresas! A Cometa, agora, é da casa, e a Expresso Brasileiro é saudosa! N.B.E.O.E.A.




sábado, 21 de maio de 2011

O Monobloco Mercedes Benz: Um carro para todos os gostos



Monobloco O-400 da Luamar: Qualidade, Durabilidade e Beleza indiscutível em um modelo que conquistou gerações



Tiago Endrigo

O O-400 é, sem dúvida, o modelo que foi mais bem aceito no mercado. Ouvi, certa vez, de um famoso empresário do ramo de transporte e turismo da regiao, que os Monoblocos são carros para todo o tipo de operação. "O Monobloco já vem pronto para rodar, não para quebrar", disse ele, orgulhoso.

E, sem dúvida, as palavras deste admirado empresário são sábias quando observamos que, pelo Brasil, muitas empresas adotaram o monobloco como carro da frota, tanto no nicho rodoviário quanto urbano. E isso é observado em quase que todas as empresas do Brasil. Vejamos, por exemplo, a Eroles, que possuiu O-370, O-371 e O-400, até modelos mais antigos do que esses. Assim foi também com a Samavisa Litoral. Aí vem também a São Geraldo, a Penha e outras empresas espalhadas pelo Brasil afora.





Quanto aos urbanos, citamos os Monoblocos da extinta CCTC, de São Paulo. Foram também uma inovação, já que grande parte da frota era movida à gás natural. Além disso, outras empresas da capital paulista adquiriram o modelo, nas mais variadas cores e variações. O MBB urbano foi, ainda, o pioneiro nos dizeres "Parada Solicitada" dentro do veículo. Quando o passageiro puxava a borboleta do sinal, o letreiro acendia.



Se citarmos o quesito durabilidade, é só ressaltar que muitas unidades ainda rodam em linhas rodoviárias de longas distâncias operadas por grandes empresas do ramo. O interior possuía um acabamento de primeira, enquanto a carroceria, em seu conjunto, incorporava peças nobres, duráveis, que em conjunto com o restante das peças e com o jogo óptico (que no O-400 ganhava conjunto de faróis dianteiros redondos, diferentes do seu antecessor, o O-371), conferiam ao veículo um designer arrojado.
Hoje os Monoblocos Mercedes são considerados carros saudosos. Mas, para a sorte de quem ama o modelo, continuam rodando o Brasil inteiro e, ainda se prestarmos atenção, veremos que são os veículos mais bem conservados entre os antigos que rodam pelas ruas. Isso retrata o amor que existe com o modelo (N.B.E.O.E.A.)








Get Your Own Scroller

terça-feira, 3 de maio de 2011

Eroles Turismo: Uma mistura de história, paixão, saudade e desenvolvimento

Por Tiago Endrigo

Uma variedade de carros, cores e composições. Inúmeros destinos que, quando combinados com os modelos de ônibus mais modernos da ocasião, davam a certeza de uma viagem confortável, agradável e pontual ao passageiro. Uma cordialidade única do profissional, ou “chofer” que conduzia o ônibus. Desfiles iminentes e maciços de chassis Mercedes-Benz, com toques de Volkswagem e os imponentes Volvos. Se fosse para detalhar tudo o que a Eroles Turismo foi e representou em termos técnicos e até, porque não, sentimentais para muitos mogianos, estes caracteres não fariam jus ao que a Eroles Turismo foi e ainda é. Hoje, mesmo inativa “ainda”, a Eroles é responsável pela melhores lembranças do transporte em Mogi das Cruzes para os busólogos daqui e de outras regiões.

E não é para menos. A empresa foi responsável direta e indiretamente pelo desenvolvimento de Mogi das Cruzes, e quem conhece a cidade sabe do que está sendo retratado aqui. Mais do que uma operadora do transporte coletivo de uma cidade, a Eroles foi uma divisora de barreiras. Bolou, iniciou, construiu e desenvolveu o que conhecemos hoje como o sistema de transporte na cidade. Quase todas as linhas urbanas (e até suburbanas e rodoviárias da região) que existem na cidade foram criadas pela pioneira.

Já nasceu com garra, regada com o suor de um íntegro trabalhado, Henrique Eroles, que adquiriu sua primeira jardineira, uma Chevrolet Tigre “Ramona”, ano 1934, operando linhas rurais na década de 30, mais basicamente no extremo sul da cidade, no bairro Capela do Ribeirão (hoje Taiaçupeba) e Biritiba-Ussú. Na década de 50, surge a oportunidade de dar início as operações de transporte coletivo na zona urbana que começava a dar fortes sinais de crescimento. A fatia exclusiva do transporte na área central de Mogi surgiu depois que a empresa Viação Sant’anna deixou de operar as linhas urbanas da cidade.

Em meados de 1937, o primeiro veículo zero km. Foi adquirido pelo Sr. Henrique Eroles. Esta fase também foi marcada por outra grande ocasião, quando são agregados à empresa como sócios a esposa e os filhos. Com a nova sociedade, surge formalmente a empresa estabelecida em razão social como Transporte e Turismo Eroles.

O pioneirismo dava grandes sinais de força. Aos poucos, os veículos da Eroles tomavam as ruas e redesenhava a cidade de Mogi, uma das mais antigas do Brasil, hoje com quase 451 anos. Seus veículos amassaram muito barro, sofreram com trechos intransitáveis e conquistaram o privilégio de “estrear” os primeiros calçamentos íntegros nas vias centrais de Mogi. E graças a Eroles, novas ruas surgiram, para dar espaço a novas linhas, e concatenado a isso, surgem novos bairros, já contando com o transporte “na porta de casa”.

Na antiga rodoviária, ou “Estação Rodoviária”, na praça Firmina Sant’anna, os ônibus, ainda do tipo Jardineira (daqueles com compartimentos superiores e escadas para acomodar bagagens no teto), dividiam espaço com veículos das empresas Pássaro Marron e Santa Maria Viação (a extinta Samavisa).

Na década de 60, a empresa familiar sofre um grande revés. O Sr. Henrique Eroles, fundador da empresa, pioneiro do transporte público de Mogi, vem à óbito no dia 7 de outubro de 1964. Deixava a vida aquele que foi um dos grandes empreendedores da cidade. Mas, a empresa já poderia ser considerada forte e consolidada. Seguia-se, a partir daí, com os desejos de seu patrono, agora à cargo dos filhos.

Da década de 70 em diante a trajetória de bons serviços e crescimento contínuo deslancharam. Aos poucos, a Eroles aumentava a quantidade de linhas em Mogi. Também era reconhecida pelo seu setor de fretamento, que abocanhava outra área precoce na cidade: turismo. Pode-se dizer que a Eroles implantou modais e conceitos de transportes inovadores na época. Investiu pesado nas aquisições de modelos, rodoviários e urbanos, sempre de ótima qualidade. Isso se tornou mais evidente depois que carrocerias e chassis começaram a ser fabricados aqui no Brasil. Antes desta logísticas, os ônibus vinham importados, de marcas como Mercedes e Aclo (hoje, Volvo).

Empenhada a fazer a diferença tanto no setor urbano quanto no turístico, inventou moda, ou “modas”. Grandes aquisições, de variadas encarroçadoras e chassis, tomaram conta da empresa. Os seus carros de turismo vinham repleto de cromados, cortininhas e outros aparatos estéticos que deixava a marca da empresa por onde passasse. Mais que apenas adereços de beleza, os carros ofereciam conforto aos passageiros, mesmo em uma época onde os modelos eram mais “broncos”.

Ainda sobre os modelos de turismo, veículos da empresa marcaram grande ocasiões na cidade. Na inauguração a rodovia Mogi-Bertioga, uma frota de ônibus da Eroles Turismo, com carrocerias Incasel Jumbo, montadas sobre chassis MBB, praticamente inauguram a estrada. Os Jumbos puxaram o comboio, que foi seguido por turistas e também por ônibus de outras empresas, como foi o caso da Empresa de Auto Ônibus Mogi das Cruzes Ltda. (E.A.O.M.C.), que mandou alguns monoblocos para descerem a serra. Outro ritual mantido pela empresa todo o sempre foi mandar seus carros para Aparecida do Norte, S.P., para serem abençoados e aspergidos. Nos ônibus, dezenas de romeiros carentes, que eram levados gratuitamente à Basilica de Aparecida pelos veículos da Eroles, que seguiam em grandes comboios para o Vale do Paraíba. Vale lembrar que o mesmo foi feito com carros urbanos.


Frota de Incasel Jumbos na Mogi-Bertioga. Inaugurando a Estrada. Foto: Diário de Mogi.



ANOS DE OURO

A trajetória de sucesso da Eroles se estendeu pelas décadas seguintes. Os anos mais recentes, das décadas de 80 e 90, são as mais nítidas no imaginário dos mogianos. A capacidade de gerir bem um sistema gigante de transporte, e que crescia cada vez mais, era bem gerido e organizado. Os modelos Ciferal Leme, Caio Gabriela I e II (os amarelinhos), Alguns Nicolas remanescentes eram sinônimos de ônibus limpos e cheirando a novo sempre, adjetivos garantidos pela senhoras que ficavam nos pontos de ônibus, esperando para que o coletivo chegasse e pudesse ser totalmente higienizado para só assim seguir viagem. O mesmo era visto nas linhas rurais. Não tinha ônibus empoeirado. Se chegava no ponto assim, era lavado. Hoje é diferente, o carro roda três, quatro, cinco viagens e a poeira se acumula. Se algum passageiro estiver vestido e quiser se manter limpo ele vai precisar viajar em pé, longe dos balaústres e apoios. Essa é a realidade hoje. Não se ouvia falar em atrasos. Pelo contrário. Carros ficavam ociosos nos pontos, caso algum quebrasse (o que era raro devido a minuciosa manutenção da empresa) o ônibus ocioso prontamente assumia o posto. Entre outros méritos estavam a renovação constante da frota.

Uma postura de mudança e risco foi adotada pela empresa no final da década de 80. A Eroles deixava de lado a tradição de adquirir modelos montados sobre MBB e adquire dezenas de Comil Minuanos montados sobre chassis Volvo B-58E. Era o diferencial na região metropolitana de São Paulo. Deixava-se de lado a tradicional pintura amarela, com as cores do Brasil, e adotava-se a pintura prata, que dava a conotação de modernidade. Pena que o modelo durou pouco na empresa. Devido a manutenção dificultosa e problemas operacionais no modelo (como o freio, que não freava...), a Eroles vendeu os Minuanos.

O SEGUNDO PATRONO: ANTÔNIO EROLES OU “TONINHO” EROLES

É indiscutível o fato de que esse grande período de progresso da Eroles seja atribuído ao Sr. Antônio Eroles. Filho de Henrique, Antônio, ou “Toninho”, assumiu a empresa do pai, na qual já trabalhava e amava desde criança. Durante uma entrevista ao Jornal Mogi News de Mogi das Cruzes, da qual este repórter participou, Toninho conta que começou a trabalhar na empresa como cobrador aos sete anos de idade. Nos comboios a Aparecida, era o Sr. Toninho que puxava a fila.

Foi nas mãos dele que a empresa entrou em um período de franco crescimento. A Eroles já operava linhas rodoviárias para o litoral paulista, região metropolitana, parte do Vale do Paraíba e região Bragantina (Atibaia e Várzea Paulista). Dominava também o fretamento para as empresas da região, além de algumas linhas que hoje são chamadas de “metropolitanos” e “suburbanas”. Em Mogi, era a própria Eroles que fazia os levantamentos e os estudos para a implantação de novos itinerários, visando mais bairro atendidos. Adivinha de quem foi a idéia. Sem dúvida, o tino de Toninho para o ramo dos ônibus se mostrou inspirador.

DÉCADA DE 90, ANOS DECISIVOS PARA A EMPRESA E EROLES DEIXA DE OPERAR

A Eroles já era a gigante que dominava a grande São Paulo. Desde a mudança para a garagem da rua Ipiranga, em 1973 (deixando a antiga garagem, na Várzea do Rio Negro), a empresa investiu em infra-estrutura. Isso deixa claro que o Sr. Toninho visualizou o futuro. Só para destacar, a rua que margeia a garagem, a Maria Osório do Valle, tem 15 metros de largura, para poder acomodar os ônibus. A Prefeitura fez isso na época também visualizando o futuro. E deu certo. Anos depois, já na década de 90, ali estava o resultado. A empresa possuiu quase 1000 ônibus, de variados modelos, que vão de Silverjet Striulli, Caio Fita Azul, Nicola, Incasel Jumbo, Ciferal Lider, Ciferal Leme Urbano, além dos grandes Comil Minuanos montados sobre chassis Volvo B-58 e dos Monoblocos MBB Urbanos O-371 UP. No final da década de 80 a Caio virou a marca da empresa. Com a aquisição de dezenas de Vitórias, marcava-se ali a soberania da encarroçadora nas aquisições, equipados com chassis MBB. Essa variada frota operava linhas urbanas e metropolitanas, hoje sob a batuta da EMTU, além das linhas da Artesp que seguem para Jacareí, que até hoje estão com a titularidade em nome da Eroles (mesmo sendo operadas pela Breda Serviços).

Em meio ao mar de chassis com motores dianteiros, no final da década de 90 a empresa recebe os modelos Caio Millenium, equipados com chassis OH da MBB. Foi um diferencial para a época. De linhas ousadas, o modelo da Caio foi apresentado pela Eroles à administração municipal durante evento no paço municipal. Era chamativo por onde passava. Mostrava-se ali a grandeza da empresa, especialista em inovar.

O final da década de 90 deu início a mudanças e dificuldades bruscas para empresas. Estes fatos todos já conhecem, outros conhecem de maneira errada e julgam a empresa pelos acontecimentos finais, já como Mito Turismo. Em 2004, a Eroles deixa de operar o sistema urbano de ônibus na cidade, e se inicia um processo doloroso para a Eroles. A prefeitura abre licitação e duas empresas disputam 50% das linhas. A Mito, do grupo Eroles, vence a concorrência junto com a Transcel.

Com a Mito Turismo operando na cidade, a Eroles ainda pode ser vista rodando, mas travestida com outras cores. Os ônibus da Eroles são repassados para a Mito (Apaches S21 MBB e Comil Sveltos G-III MBB, todos of-1417, enviados originalmente para a Eroles). Outras aquisições ocorrem, como os lotes de Caios Apaches Vip I montados sobre VW e MBB, micros e modelos usados de outras empresas. Mesmo assim, a empresa não se recupera. Depois de sucessivas parcerias, a empresa deixa o sistema em 2009, operando religiosamente as linhas até o dia 22 de janeiro, à 0h. Logo depois da meia-noite, os veículos novos que a empresa havia incorporado a frota (Comil Sveltos G-IV e Torinos G-VI, além de modelos locados de São Paulo), deixaram a garagem.

EROLES FEZ PARTE DO CRESCIMENTO DA CIDADE

A Eroles pode ser considerada, como empresa, responsável direta e indireta de grande parte do desenvolvimento de Mogi das Cruzes. Locais que nunca foram servidos por trens ou qualquer outro tipo de transporte público tiveram os serviços da Eroles, e se desenvolveram graças à ela. O transporte coletivo empregado pela Eroles abriu caminho para regiões ermas, desabitadas quase que por total, e instigou aqueles que quiseram expandir os limites da cidade. Em muitos pontos de Mogi, os serviços da Eroles já existia muito antes mesmo de existirem vilas ou bairro. Era o ônibus da Eroles que desbravava essas regiões, e integrava o povo da cidade com o povo da “roça”. Tal questão é relatada pelo aposentado José Francisco Ferreira, 60 anos. Ele conta que locais quase inabitados já eram servidos pela Eroles. “Trabalhei nas décadas de 60 e 70 na Aços Anhanguera, hoje Guerdau, na avenida Miguel Gemma, lá no Socorro. Lembro que os ônibus da Eroles, série 200, iam até o alto do monte onde hoje é o bairro do Socorro, na avenida São Paulo. Lá não havia quase nada, apenas alguns ranchos ou casebres”, contou. “Um dia, um motorista me disse que mesmo não morando ninguém lá a Eroles mandava os ônibus, pois um dia ali seria habitado”, completou. Dito e feito. A estrada precária aberta naquele local para a passagem dos coletivos da empresa foi a ligação daquela região com o centro da cidade. Hoje, o bairro do Socorro é um dos mais populosos de Mogi.

O historiador e pintor Jorge João do Carmo conta que a região do Jardim Esperança e Jardim Universo também contaram com a constante presença da Eroles, transportando os poucos que ali moravam. “Era a Eroles que trazia os poucos que moravam aqui. O ônibus subia o que hoje é a avenida Henrique Eroles (antiga Estrada Campo Grande, que recebeu o nome do fundador da empresa) e se embreava pelo meio do mato, deixando cada um em seu casebre. Com esse transporte, cada vez mais pessoas participaram dessa migração urbana. Devemos isso a Eroles”, destaca, com orgulho.

O aposentado Jair Antônio de Godoy trabalhou durante 25 anos na Eroles como motorista e segurança, nas décadas de 70 e 80, e relata o comprometimento da empresa com a cidade toda. “A Eroles pensava em todo mundo, até em quem estava no meio do mato ou em regiões de difícil acesso. E os ônibus iam até onde dava pra ir. Isso estigava o pessoal a lotear lugares novos, antes desabitados”, disse Godoy, que morou em Biritiba Ussú, um dos primeiros pontos servidos pela Eroles, ainda na década de 30. “Hoje moro em Campos do Jordão, e tenho saudade dos ônibus da empresa. Quando durmo até sonho com ela, que foi uma mãe para os funcionários”, finalizou. (N.B.E.O.E.A.)