sábado, 21 de maio de 2011

O Monobloco Mercedes Benz: Um carro para todos os gostos



Monobloco O-400 da Luamar: Qualidade, Durabilidade e Beleza indiscutível em um modelo que conquistou gerações



Tiago Endrigo

O O-400 é, sem dúvida, o modelo que foi mais bem aceito no mercado. Ouvi, certa vez, de um famoso empresário do ramo de transporte e turismo da regiao, que os Monoblocos são carros para todo o tipo de operação. "O Monobloco já vem pronto para rodar, não para quebrar", disse ele, orgulhoso.

E, sem dúvida, as palavras deste admirado empresário são sábias quando observamos que, pelo Brasil, muitas empresas adotaram o monobloco como carro da frota, tanto no nicho rodoviário quanto urbano. E isso é observado em quase que todas as empresas do Brasil. Vejamos, por exemplo, a Eroles, que possuiu O-370, O-371 e O-400, até modelos mais antigos do que esses. Assim foi também com a Samavisa Litoral. Aí vem também a São Geraldo, a Penha e outras empresas espalhadas pelo Brasil afora.





Quanto aos urbanos, citamos os Monoblocos da extinta CCTC, de São Paulo. Foram também uma inovação, já que grande parte da frota era movida à gás natural. Além disso, outras empresas da capital paulista adquiriram o modelo, nas mais variadas cores e variações. O MBB urbano foi, ainda, o pioneiro nos dizeres "Parada Solicitada" dentro do veículo. Quando o passageiro puxava a borboleta do sinal, o letreiro acendia.



Se citarmos o quesito durabilidade, é só ressaltar que muitas unidades ainda rodam em linhas rodoviárias de longas distâncias operadas por grandes empresas do ramo. O interior possuía um acabamento de primeira, enquanto a carroceria, em seu conjunto, incorporava peças nobres, duráveis, que em conjunto com o restante das peças e com o jogo óptico (que no O-400 ganhava conjunto de faróis dianteiros redondos, diferentes do seu antecessor, o O-371), conferiam ao veículo um designer arrojado.
Hoje os Monoblocos Mercedes são considerados carros saudosos. Mas, para a sorte de quem ama o modelo, continuam rodando o Brasil inteiro e, ainda se prestarmos atenção, veremos que são os veículos mais bem conservados entre os antigos que rodam pelas ruas. Isso retrata o amor que existe com o modelo (N.B.E.O.E.A.)








Get Your Own Scroller

terça-feira, 3 de maio de 2011

Eroles Turismo: Uma mistura de história, paixão, saudade e desenvolvimento

Por Tiago Endrigo

Uma variedade de carros, cores e composições. Inúmeros destinos que, quando combinados com os modelos de ônibus mais modernos da ocasião, davam a certeza de uma viagem confortável, agradável e pontual ao passageiro. Uma cordialidade única do profissional, ou “chofer” que conduzia o ônibus. Desfiles iminentes e maciços de chassis Mercedes-Benz, com toques de Volkswagem e os imponentes Volvos. Se fosse para detalhar tudo o que a Eroles Turismo foi e representou em termos técnicos e até, porque não, sentimentais para muitos mogianos, estes caracteres não fariam jus ao que a Eroles Turismo foi e ainda é. Hoje, mesmo inativa “ainda”, a Eroles é responsável pela melhores lembranças do transporte em Mogi das Cruzes para os busólogos daqui e de outras regiões.

E não é para menos. A empresa foi responsável direta e indiretamente pelo desenvolvimento de Mogi das Cruzes, e quem conhece a cidade sabe do que está sendo retratado aqui. Mais do que uma operadora do transporte coletivo de uma cidade, a Eroles foi uma divisora de barreiras. Bolou, iniciou, construiu e desenvolveu o que conhecemos hoje como o sistema de transporte na cidade. Quase todas as linhas urbanas (e até suburbanas e rodoviárias da região) que existem na cidade foram criadas pela pioneira.

Já nasceu com garra, regada com o suor de um íntegro trabalhado, Henrique Eroles, que adquiriu sua primeira jardineira, uma Chevrolet Tigre “Ramona”, ano 1934, operando linhas rurais na década de 30, mais basicamente no extremo sul da cidade, no bairro Capela do Ribeirão (hoje Taiaçupeba) e Biritiba-Ussú. Na década de 50, surge a oportunidade de dar início as operações de transporte coletivo na zona urbana que começava a dar fortes sinais de crescimento. A fatia exclusiva do transporte na área central de Mogi surgiu depois que a empresa Viação Sant’anna deixou de operar as linhas urbanas da cidade.

Em meados de 1937, o primeiro veículo zero km. Foi adquirido pelo Sr. Henrique Eroles. Esta fase também foi marcada por outra grande ocasião, quando são agregados à empresa como sócios a esposa e os filhos. Com a nova sociedade, surge formalmente a empresa estabelecida em razão social como Transporte e Turismo Eroles.

O pioneirismo dava grandes sinais de força. Aos poucos, os veículos da Eroles tomavam as ruas e redesenhava a cidade de Mogi, uma das mais antigas do Brasil, hoje com quase 451 anos. Seus veículos amassaram muito barro, sofreram com trechos intransitáveis e conquistaram o privilégio de “estrear” os primeiros calçamentos íntegros nas vias centrais de Mogi. E graças a Eroles, novas ruas surgiram, para dar espaço a novas linhas, e concatenado a isso, surgem novos bairros, já contando com o transporte “na porta de casa”.

Na antiga rodoviária, ou “Estação Rodoviária”, na praça Firmina Sant’anna, os ônibus, ainda do tipo Jardineira (daqueles com compartimentos superiores e escadas para acomodar bagagens no teto), dividiam espaço com veículos das empresas Pássaro Marron e Santa Maria Viação (a extinta Samavisa).

Na década de 60, a empresa familiar sofre um grande revés. O Sr. Henrique Eroles, fundador da empresa, pioneiro do transporte público de Mogi, vem à óbito no dia 7 de outubro de 1964. Deixava a vida aquele que foi um dos grandes empreendedores da cidade. Mas, a empresa já poderia ser considerada forte e consolidada. Seguia-se, a partir daí, com os desejos de seu patrono, agora à cargo dos filhos.

Da década de 70 em diante a trajetória de bons serviços e crescimento contínuo deslancharam. Aos poucos, a Eroles aumentava a quantidade de linhas em Mogi. Também era reconhecida pelo seu setor de fretamento, que abocanhava outra área precoce na cidade: turismo. Pode-se dizer que a Eroles implantou modais e conceitos de transportes inovadores na época. Investiu pesado nas aquisições de modelos, rodoviários e urbanos, sempre de ótima qualidade. Isso se tornou mais evidente depois que carrocerias e chassis começaram a ser fabricados aqui no Brasil. Antes desta logísticas, os ônibus vinham importados, de marcas como Mercedes e Aclo (hoje, Volvo).

Empenhada a fazer a diferença tanto no setor urbano quanto no turístico, inventou moda, ou “modas”. Grandes aquisições, de variadas encarroçadoras e chassis, tomaram conta da empresa. Os seus carros de turismo vinham repleto de cromados, cortininhas e outros aparatos estéticos que deixava a marca da empresa por onde passasse. Mais que apenas adereços de beleza, os carros ofereciam conforto aos passageiros, mesmo em uma época onde os modelos eram mais “broncos”.

Ainda sobre os modelos de turismo, veículos da empresa marcaram grande ocasiões na cidade. Na inauguração a rodovia Mogi-Bertioga, uma frota de ônibus da Eroles Turismo, com carrocerias Incasel Jumbo, montadas sobre chassis MBB, praticamente inauguram a estrada. Os Jumbos puxaram o comboio, que foi seguido por turistas e também por ônibus de outras empresas, como foi o caso da Empresa de Auto Ônibus Mogi das Cruzes Ltda. (E.A.O.M.C.), que mandou alguns monoblocos para descerem a serra. Outro ritual mantido pela empresa todo o sempre foi mandar seus carros para Aparecida do Norte, S.P., para serem abençoados e aspergidos. Nos ônibus, dezenas de romeiros carentes, que eram levados gratuitamente à Basilica de Aparecida pelos veículos da Eroles, que seguiam em grandes comboios para o Vale do Paraíba. Vale lembrar que o mesmo foi feito com carros urbanos.


Frota de Incasel Jumbos na Mogi-Bertioga. Inaugurando a Estrada. Foto: Diário de Mogi.



ANOS DE OURO

A trajetória de sucesso da Eroles se estendeu pelas décadas seguintes. Os anos mais recentes, das décadas de 80 e 90, são as mais nítidas no imaginário dos mogianos. A capacidade de gerir bem um sistema gigante de transporte, e que crescia cada vez mais, era bem gerido e organizado. Os modelos Ciferal Leme, Caio Gabriela I e II (os amarelinhos), Alguns Nicolas remanescentes eram sinônimos de ônibus limpos e cheirando a novo sempre, adjetivos garantidos pela senhoras que ficavam nos pontos de ônibus, esperando para que o coletivo chegasse e pudesse ser totalmente higienizado para só assim seguir viagem. O mesmo era visto nas linhas rurais. Não tinha ônibus empoeirado. Se chegava no ponto assim, era lavado. Hoje é diferente, o carro roda três, quatro, cinco viagens e a poeira se acumula. Se algum passageiro estiver vestido e quiser se manter limpo ele vai precisar viajar em pé, longe dos balaústres e apoios. Essa é a realidade hoje. Não se ouvia falar em atrasos. Pelo contrário. Carros ficavam ociosos nos pontos, caso algum quebrasse (o que era raro devido a minuciosa manutenção da empresa) o ônibus ocioso prontamente assumia o posto. Entre outros méritos estavam a renovação constante da frota.

Uma postura de mudança e risco foi adotada pela empresa no final da década de 80. A Eroles deixava de lado a tradição de adquirir modelos montados sobre MBB e adquire dezenas de Comil Minuanos montados sobre chassis Volvo B-58E. Era o diferencial na região metropolitana de São Paulo. Deixava-se de lado a tradicional pintura amarela, com as cores do Brasil, e adotava-se a pintura prata, que dava a conotação de modernidade. Pena que o modelo durou pouco na empresa. Devido a manutenção dificultosa e problemas operacionais no modelo (como o freio, que não freava...), a Eroles vendeu os Minuanos.

O SEGUNDO PATRONO: ANTÔNIO EROLES OU “TONINHO” EROLES

É indiscutível o fato de que esse grande período de progresso da Eroles seja atribuído ao Sr. Antônio Eroles. Filho de Henrique, Antônio, ou “Toninho”, assumiu a empresa do pai, na qual já trabalhava e amava desde criança. Durante uma entrevista ao Jornal Mogi News de Mogi das Cruzes, da qual este repórter participou, Toninho conta que começou a trabalhar na empresa como cobrador aos sete anos de idade. Nos comboios a Aparecida, era o Sr. Toninho que puxava a fila.

Foi nas mãos dele que a empresa entrou em um período de franco crescimento. A Eroles já operava linhas rodoviárias para o litoral paulista, região metropolitana, parte do Vale do Paraíba e região Bragantina (Atibaia e Várzea Paulista). Dominava também o fretamento para as empresas da região, além de algumas linhas que hoje são chamadas de “metropolitanos” e “suburbanas”. Em Mogi, era a própria Eroles que fazia os levantamentos e os estudos para a implantação de novos itinerários, visando mais bairro atendidos. Adivinha de quem foi a idéia. Sem dúvida, o tino de Toninho para o ramo dos ônibus se mostrou inspirador.

DÉCADA DE 90, ANOS DECISIVOS PARA A EMPRESA E EROLES DEIXA DE OPERAR

A Eroles já era a gigante que dominava a grande São Paulo. Desde a mudança para a garagem da rua Ipiranga, em 1973 (deixando a antiga garagem, na Várzea do Rio Negro), a empresa investiu em infra-estrutura. Isso deixa claro que o Sr. Toninho visualizou o futuro. Só para destacar, a rua que margeia a garagem, a Maria Osório do Valle, tem 15 metros de largura, para poder acomodar os ônibus. A Prefeitura fez isso na época também visualizando o futuro. E deu certo. Anos depois, já na década de 90, ali estava o resultado. A empresa possuiu quase 1000 ônibus, de variados modelos, que vão de Silverjet Striulli, Caio Fita Azul, Nicola, Incasel Jumbo, Ciferal Lider, Ciferal Leme Urbano, além dos grandes Comil Minuanos montados sobre chassis Volvo B-58 e dos Monoblocos MBB Urbanos O-371 UP. No final da década de 80 a Caio virou a marca da empresa. Com a aquisição de dezenas de Vitórias, marcava-se ali a soberania da encarroçadora nas aquisições, equipados com chassis MBB. Essa variada frota operava linhas urbanas e metropolitanas, hoje sob a batuta da EMTU, além das linhas da Artesp que seguem para Jacareí, que até hoje estão com a titularidade em nome da Eroles (mesmo sendo operadas pela Breda Serviços).

Em meio ao mar de chassis com motores dianteiros, no final da década de 90 a empresa recebe os modelos Caio Millenium, equipados com chassis OH da MBB. Foi um diferencial para a época. De linhas ousadas, o modelo da Caio foi apresentado pela Eroles à administração municipal durante evento no paço municipal. Era chamativo por onde passava. Mostrava-se ali a grandeza da empresa, especialista em inovar.

O final da década de 90 deu início a mudanças e dificuldades bruscas para empresas. Estes fatos todos já conhecem, outros conhecem de maneira errada e julgam a empresa pelos acontecimentos finais, já como Mito Turismo. Em 2004, a Eroles deixa de operar o sistema urbano de ônibus na cidade, e se inicia um processo doloroso para a Eroles. A prefeitura abre licitação e duas empresas disputam 50% das linhas. A Mito, do grupo Eroles, vence a concorrência junto com a Transcel.

Com a Mito Turismo operando na cidade, a Eroles ainda pode ser vista rodando, mas travestida com outras cores. Os ônibus da Eroles são repassados para a Mito (Apaches S21 MBB e Comil Sveltos G-III MBB, todos of-1417, enviados originalmente para a Eroles). Outras aquisições ocorrem, como os lotes de Caios Apaches Vip I montados sobre VW e MBB, micros e modelos usados de outras empresas. Mesmo assim, a empresa não se recupera. Depois de sucessivas parcerias, a empresa deixa o sistema em 2009, operando religiosamente as linhas até o dia 22 de janeiro, à 0h. Logo depois da meia-noite, os veículos novos que a empresa havia incorporado a frota (Comil Sveltos G-IV e Torinos G-VI, além de modelos locados de São Paulo), deixaram a garagem.

EROLES FEZ PARTE DO CRESCIMENTO DA CIDADE

A Eroles pode ser considerada, como empresa, responsável direta e indireta de grande parte do desenvolvimento de Mogi das Cruzes. Locais que nunca foram servidos por trens ou qualquer outro tipo de transporte público tiveram os serviços da Eroles, e se desenvolveram graças à ela. O transporte coletivo empregado pela Eroles abriu caminho para regiões ermas, desabitadas quase que por total, e instigou aqueles que quiseram expandir os limites da cidade. Em muitos pontos de Mogi, os serviços da Eroles já existia muito antes mesmo de existirem vilas ou bairro. Era o ônibus da Eroles que desbravava essas regiões, e integrava o povo da cidade com o povo da “roça”. Tal questão é relatada pelo aposentado José Francisco Ferreira, 60 anos. Ele conta que locais quase inabitados já eram servidos pela Eroles. “Trabalhei nas décadas de 60 e 70 na Aços Anhanguera, hoje Guerdau, na avenida Miguel Gemma, lá no Socorro. Lembro que os ônibus da Eroles, série 200, iam até o alto do monte onde hoje é o bairro do Socorro, na avenida São Paulo. Lá não havia quase nada, apenas alguns ranchos ou casebres”, contou. “Um dia, um motorista me disse que mesmo não morando ninguém lá a Eroles mandava os ônibus, pois um dia ali seria habitado”, completou. Dito e feito. A estrada precária aberta naquele local para a passagem dos coletivos da empresa foi a ligação daquela região com o centro da cidade. Hoje, o bairro do Socorro é um dos mais populosos de Mogi.

O historiador e pintor Jorge João do Carmo conta que a região do Jardim Esperança e Jardim Universo também contaram com a constante presença da Eroles, transportando os poucos que ali moravam. “Era a Eroles que trazia os poucos que moravam aqui. O ônibus subia o que hoje é a avenida Henrique Eroles (antiga Estrada Campo Grande, que recebeu o nome do fundador da empresa) e se embreava pelo meio do mato, deixando cada um em seu casebre. Com esse transporte, cada vez mais pessoas participaram dessa migração urbana. Devemos isso a Eroles”, destaca, com orgulho.

O aposentado Jair Antônio de Godoy trabalhou durante 25 anos na Eroles como motorista e segurança, nas décadas de 70 e 80, e relata o comprometimento da empresa com a cidade toda. “A Eroles pensava em todo mundo, até em quem estava no meio do mato ou em regiões de difícil acesso. E os ônibus iam até onde dava pra ir. Isso estigava o pessoal a lotear lugares novos, antes desabitados”, disse Godoy, que morou em Biritiba Ussú, um dos primeiros pontos servidos pela Eroles, ainda na década de 30. “Hoje moro em Campos do Jordão, e tenho saudade dos ônibus da empresa. Quando durmo até sonho com ela, que foi uma mãe para os funcionários”, finalizou. (N.B.E.O.E.A.)